segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Pelo fim das obras viárias, doo meu estoque de narizes de palhaço a jornalista da Folha de São Paulo


O jornalista Marcos Augusto Gonçalves reagiu ao cancelamento de obras viárias do projeto arco do futuro do prefeito Haddad pedindo o nariz de palhaço a que teria direito (“Arco do Passado”, FSP, 19/08/2013, pg. C2). De meu lado, fiquei contente com o abandono de algumas daquelas ideias, principalmente grandes obras como as vias de apoio à Marginal Tietê. Até concordo com o jornalista quanto ao caráter eleitoreiro do projeto e quanto à possível decepção que a volta atrás pode trazer a vários eleitores, mas cá entre nós, ainda bem. Ainda bem que o prefeito Haddad voltou atrás em algumas besteiras sem tamanho prometidas no meio das ideias que compunham sua proposta de campanha “Arco do Futuro”.

A verdade é que a construção de mais avenidas e a ampliação das existentes, motivadas pelo tráfego congestionado, não faz nada para reduzir os congestionamentos. Se fizessem, o aumento de pistas na marginal Tietê feito pelo José Serra teria reduzido os índices de congestionamento na região e a construção das linhas Vermelha e Amarela teria contribuído para a redução dos congestionamentos no Rio de Janeiro, não é mesmo?

Esta afirmação não é minha, nem recente, alguns exemplos da literatura:
- Já em 1942 o engenheiro famoso Robert Moses percebeu que as vias que construiu em Nova York até 1939 estavam gerando problemas de trânsito maiores do que os que existiam anteriormente.
- Em 1989 a Southern California Association of Governments concluiu que o acréscimo de pistas e a construção de vias de dois andares não teriam mais do que um efeito cosmético sobre os problemas do trânsito de Los Angeles;
- Em 1998 relatório do governo britânico afirmou que o aumento da capacidade de tráfego leva as pessoas a dirigir mais – muito mais;
- A Universidade da Califórnia em Berkeley estudou 30 municípios da Califórnia entre 1973 e 1990 e constatou que, para cada aumento de 10 por cento na capacidade das estradas, o tráfego cresceu 9 por cento em quatro anos;
- Reportagem do USA Today relatou que “durante anos, Atlanta tentou afastar os problemas de tráfego construindo maior quantidade de quilômetros de auto-estradas per capita do que qualquer outra área urbana. Como resultado da expansão os habitantes de Atlanta agora dirigem uma média de 50 quilômetros por dia, mais do que os moradores de qualquer outra cidade”.*

São todos exemplos de tráfego induzido: uma nova avenida cria novos espaços para a urbanização que, uma vez ocupados, criam demanda por mais viagens e mais novas avenidas. A saída é conseguir ofertar trabalho, lazer, educação etc. próximos à casa das pessoas, o que era (ainda é, espero) o principal discurso justificador do Arco do Futuro. Se um dia chegarmos lá talvez vejamos a cena sonhada pela Associação Parque Minhocão que ilustra esta nota.

* Todos estas referências vieram do livro The Rise of Sprawl and the Decline of the American Dream, de Andres Duany, Elizabeth Plater-Zyberk e Speck Jeff; North Point Press, 2000, que tem um trecho traduzido no blog Vá de bici!, que me chegou graças ao amigo Carlos Faria, o Café.

Daqui a pouco novo alerta do IPCC

Dentro de algumas semanas o maior grupo de cientistas jamais associado em uma área do conhecimento, o IPCC, painel climático da ONU, vai lançar seu 5º relatório. Certamente descreverá como as mudanças climáticas globais continuam acontecendo. Como lembra o jornalista John Abraham, sabemos de pesquisas recentes que as temperaturas atmosféricas seguem aumentando, o gelo dos polos derretendo e os oceanos se acidificando, aquecendo, subindo e recebendo grandes quantidades de calor até em suas partes mais profundas. Certamente vai mostrar também que estas e outras mudanças no clima da Terra são em grande parte causadas pela humanidade, ou melhor, pelo atual padrão de atividade econômica.
Faço coro ao jornalista na pergunta: quantos mais destes relatórios serão necessários? Quantos alertas mais até que os poderosos deste mundo aceitem parar com a mais perigosa experiência em tempo real na qual a humanidade já se meteu?

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Esqueceram do sistema de controle: hidrelétricas do Madeira terão que trabalhar a baixa potência

Não bastasse a cadeia de problemas desde a concepção das hidrelétricas do Madeira agora apareceu mais um: o Ministério de Minas e Energia não conseguiu coordenar a tempo as concessionárias das duas hidrelétrica para a instalação de sistema de controle de uso das linhas de transmissão. Resultado: até dezembro próximo as usinas trabalharão com somente 30% da capacidade para não queimar turbinas.
Vejam nota do Valor Econômico (12/08/2012):
Erro de ministério limita o uso da energia do Madeira
Um grave erro de planejamento do Ministério de Minas e Energia impedirá que parte da energia produzida até o fim do ano pelas duas usinas do rio Madeira, em Rondônia, seja escoada para o restante do país. Se toda a geração de Santo Antônio e de Jirau for transmitida para o sistema interligado nacional, há risco de queima das turbinas instaladas, o que causaria prejuízos gigantescos. Juntos, os dois empreendimentos estão orçados em quase R$ 30 bilhões. A restrição só será resolvida em dezembro, com a instalação de equipamentos que estavam fora do projeto original das usinas. Enquanto isso, a alternativa é limitar o escoamento a um nível muito inferior ao previsto.