quarta-feira, 22 de maio de 2013

A receita de Martin Wolf

Esta é a receita de oito passos para a humanidade se safar do caos futuro (e certo) das mudanças climáticas proposta por Martin Wolf, editor associado e comentarista econômico do The Economist:
1) implantar impostos sobre emissões de carbono e reduzir o imposto sobre o emprego;
2) expandir a participação da geração nuclear na matriz energética mundial;
3) impor padrões de emissão extremamente rígidos para os automóveis e demais máquinas;
4) gerar um fluxo de comércio mundial garantido de combustíveis de baixo teor de carbono de modo a convencer a China a se afastar do carvão;
5) financiar a transferência das melhores tecnologias disponíveis para gerar e economizar energia em todo o planeta;
6) investir em pesquisa básica e em inovação, combinando financiamento à pesquisa na universidade e apoio a parcerias público-privadas;
7) investir na adaptação aos efeitos da mudança climática.
8) por fim, estudar a possibilidade de empregar a geoengenharia (manipulação em grande escala do planeta a fim de reverter a mudança climática).

Alguns destes ingredientes são no mínimo esquisitos, como por exemplo aumentar em escala o uso da energia nuclear e lançar mão de algo tão improvável e perigoso quanto as propostas da geoengenharia. E faltam ingredientes como a expansão das fontes renováveis de energia solar e eólica e a revisão dos padrões de consumo daqueles que consomem.

Mas com a difusão da percepção de inexistência de governança global com força suficiente para implantar e fiscalizar um acordo de redução de emissões de carbono capaz de enfrentar a crise vindoura, as alternativas não fugirão de listas como estas.

A não ser que consigamos reduzir em 90% o consumo atual de energia e materiais da humanidade. E é dificil acreditar nisso, mesmo tendo acordado tão otimista hoje.

O texto do Martin Wolf está em http://www.valor.com.br/opiniao/3133644/vitoria-dos-ceticos-da-mudanca-climatica#ixzz2U2hLTbaV

China anuncia que vai "aumentar menos" suas emissões de carbono

Parece que a China concordou em cortar sua intensidade de carbono, isto é, a quantidade de CO2 emitido à atmosfera por cada dólar de produto da sua economia. A meta estabelecida para 2020 é equivalente a um corte de 40% nas emissões por produto do ano base de 2005.

O que a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma do governo chinês anunciou não foi uma redução de emissões, na verdade estas devem continuar aumentando, mas em um ritmo mais lento.

O que tem de interessante nesta notícia é que pela primeira vez a China abandona sua resistência histórica já em aceitar acordos com governos de outros países que podem vir a impactar sua economia. Neste sentido o país se colocou à frente dos EUA, que até agora não se moveu esperando a China fazer algo (a China foi responsável por 24% das emissões mundiais de carbono do ano de 2009, e os Estados Unidos por 17%).

Será que apareceu uma chance para um acordo global efetivo de redução de emissões e afastamento da ameaça das mudanças climáticas? Ou será que acordei muito otimista hoje?

Mais sobre a notícia em http://www.independent.co.uk/environment/climate-change/china-agrees-to-impose-carbon-targets-by-2016-8626101.html

segunda-feira, 20 de maio de 2013

A delicada atmosfera da Terra

Bela foto esta tirada pelo astronauta canadense Chris Hadfield na Estação Espacial antes de sua volta à Terra.



Dá para ver muito bem como é fina a atmosfera do nosso planeta em relação ao seu diâmetro.

Vivemos nesta pequena camada e nela também despejamos - entre outras coisas - os gases de efeito estufa das indústrias, termelétricas, carros, ônibus, motos, caminhões, navios, aviões etc. etc.

Não é de estranhar que consigamos alterar a composição de uma coisinha assim tão delgada.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Governo dos EUA vê no derretimento do gelo do Oceano Ártico novas oportunidades de exploração de petróleo

No dia 10 de maio passado o presidente Obama lançou sua Estratégia Nacional para a Região Ártica onde afirma que "proteger o ambiente único e em mudança do Ártico é o objetivo central da política dos EUA. Ações de apoio promoverão em longo prazo ecossistemas saudáveis, sustentáveis e resilientes, capazes de dar suporte a uma ampla gama de serviços ecossistêmicos" (http://www.whitehouse.gov/sites/default/files/docs/nat_arctic_strategy.pdf).

Mas em outro trecho do documento a verdadeira natureza da estratégia é anunciada: "a redução no gelo do Oceano Ártico tem sido dramática, abrupta e implacável. A densa camada de gelo plurianual está dando lugar a finas camadas de gelo sazonal, aumentando a área permanentemente navegável. Estimativas científicas dos recursos de petróleo e gás convencionais tecnicamente recuperáveis ao norte do Círculo Polar Ártico apontam para a existência ali de 13% do petróleo e 30% do gás ainda não descobertos no mundo, assim como para grandes quantidades de recursos minerais, incluindo terras raras, minério de ferro e níquel. Estas estimativas têm inspirado novas iniciativas comerciais e de desenvolvimento da infraestrutura da região. Enquanto a maior navegabilidade de partes do Oceano Ártico incita interesse crescente na viabilidade da Rota do Mar do Norte e outras rotas potenciais, incluindo a Passagem do Noroeste, bem como no desenvolvimento dos recursos do Ártico".

Sem comentários.

Refugiados de um clima em mudança

A vila de Newtok, Alaska, está afundando devido ao derretimento do seu solo que era permanentemente congelado (permafrost) e à diminuição da camada de gelo ártico que deixa a região mais vulnerável às forças do oceano. Os moradores de Newtok são os primeiros refugiados climáticos dos EUA.



Mais de 180 comundades nativas do Alaska estão em situação semelhante, ameaçadas pelo derretimento do gelo que é parte de um clima em mudança.

Mais detalhes em http://www.guardian.co.uk/environment/interactive/2013/may/13/newtok-alaska-climate-change-refugees.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

De manhã para o centro, de noite para a periferia

Genial o infográfico animado que mostra o padrão de deslocamento pendular dos habitantes de Londres que está em
http://www.youtube.com/watch?v=4FrnF2HlBGg&feature=player_embedded

A animação foi feita com base nas informações dos cartões inteligentes do transporte público da cidade. Os pontos vermelhos são as entradas no sistema de transporte e os verdes representam as saídas do sistema.

Se fosse possível construir um infográfico como este para o transporte individual por automóvel em São Paulo teríamos mais ou menos o mesmo padrão periferia => centro, centro => periferia. Só que cada um dos passageiro usando mais de 15 m2 de área das ruas. Não dá para termos outra coisa senão os imensos engarrafamentos.

terça-feira, 14 de maio de 2013

Via Dolorosa: corrupção e visão de curto prazo estão nos empurrando ao longo do caminho das dores*

Os registros voltam há 800 mil anos na pré-história: esta é a idade das mais antigas bolhas de ar fósseis extraídas do Domo C, uma cúpula de gelo abrigada nas profundezas da Antártida. E durante todo esse período não houve nada parecido com isso. Em nenhum momento dos registros pré-industriais as concentrações de dióxido de carbono no ar subiram acima de 300 partes por milhão. 400ppm é um número que pertence a outra e diferente era.

A diferença entre 399 e 400ppm é pequena, em termos de seus impactos sobre os sistemas vivos do mundo. Mas este é um momento de grande significado simbólico, uma estação na Via Dolorosa da destruição ambiental. É um símbolo da nossa falha coletiva. Não conseguimos colocar as perspectivas de longo prazo do mundo natural e as pessoas que são por ele nutridas acima do interesse pessoal imediato.

A única forma de avançar agora é voltar: refazer nossos passos ao longo desta estrada e procurar maneiras de fazer as concentrações atmosféricas de CO2 baixarem para cerca de 350ppm, como demanda a campanha 350.org. Isto requer, antes de tudo, que deixemos a maioria dos combustíveis fósseis que já foram encontrados onde estão, no solo. Não existe um governo ou uma empresa de energia que já concordou em fazê-lo.

Pouco antes da marca de 400ppm ser alcançada, a Shell anunciou que vai avançar com os seus planos para perfurar mais fundo do que qualquer outra exploração de petróleo offshore foi antes: quase três quilômetros abaixo do Golfo do México.

Poucas horas depois, a Universidade de Oxford abriu um novo laboratório em seu departamento de ciências da terra. O laboratório é financiado pela Shell. A Oxford diz que a parceria "foi projetada para apoiar o desenvolvimento mais eficaz dos recursos naturais de modo a atender ao rápido crescimento da demanda global por energia". O que se pode traduzir como encontrar e extrair mais combustível fóssil ainda.

O regime de comércio de emissões europeu, que deveria ter limitado o nosso consumo, está agora, para fins práticos, morto. As negociações internacionais do clima estão paralisadas; governos como o nosso [UK] parecem estar agora silenciosamente desfazendo seus compromissos domésticos. Medidas práticas para evitar o crescimento das emissões globais são, por comparação com a escala do desafio, quase inexistente.

O problema é fácil de formular: o poder das empresas de combustíveis fósseis é muito grande. Entre aqueles que procuram e obtêm altos cargos existem pessoas caracterizadas por uma completa ausência de empatia ou escrúpulos, que recebem dinheiro e instruções de qualquer corporação ou bilionário que lhes ofereça, para em seguida defender seus interesses contra as perspectivas atuais e futuras da humanidade. Esta nova marca de 400ppm reflete um profundo fracasso da política, a nível mundial, na qual a democracia foi suplantada silenciosamente pela plutocracia. Sem uma reforma generalizada do financiamento de campanhas politicas e do lobby, do tráfico de influência e da corrupção sistemática que este promove, nossas chances de evitar um colapso climático estão perto de zero.

Pois aqui estamos em uma estação da estrada de idiotice, aparentemente determinados apenas a completar nossa viagem.

*Publicado em 10/05/2013 por George Monbiot no website do The Guardian.