Os registros voltam há 800 mil anos na pré-história: esta é a idade das mais antigas bolhas de ar fósseis extraídas do Domo C, uma cúpula de gelo abrigada nas profundezas da Antártida. E durante todo esse período não houve nada parecido com isso. Em nenhum momento dos registros pré-industriais as concentrações de dióxido de carbono no ar subiram acima de 300 partes por milhão. 400ppm é um número que pertence a outra e diferente era.
A diferença entre 399 e 400ppm é pequena, em termos de seus impactos sobre os sistemas vivos do mundo. Mas este é um momento de grande significado simbólico, uma estação na Via Dolorosa da destruição ambiental. É um símbolo da nossa falha coletiva. Não conseguimos colocar as perspectivas de longo prazo do mundo natural e as pessoas que são por ele nutridas acima do interesse pessoal imediato.
A única forma de avançar agora é voltar: refazer nossos passos ao longo desta estrada e procurar maneiras de fazer as concentrações atmosféricas de CO2 baixarem para cerca de 350ppm, como demanda a campanha 350.org. Isto requer, antes de tudo, que deixemos a maioria dos combustíveis fósseis que já foram encontrados onde estão, no solo. Não existe um governo ou uma empresa de energia que já concordou em fazê-lo.
Pouco antes da marca de 400ppm ser alcançada, a Shell anunciou que vai avançar com os seus planos para perfurar mais fundo do que qualquer outra exploração de petróleo offshore foi antes: quase três quilômetros abaixo do Golfo do México.
Poucas horas depois, a Universidade de Oxford abriu um novo laboratório em seu departamento de ciências da terra. O laboratório é financiado pela Shell. A Oxford diz que a parceria "foi projetada para apoiar o desenvolvimento mais eficaz dos recursos naturais de modo a atender ao rápido crescimento da demanda global por energia". O que se pode traduzir como encontrar e extrair mais combustível fóssil ainda.
O regime de comércio de emissões europeu, que deveria ter limitado o nosso consumo, está agora, para fins práticos, morto. As negociações internacionais do clima estão paralisadas; governos como o nosso [UK] parecem estar agora silenciosamente desfazendo seus compromissos domésticos. Medidas práticas para evitar o crescimento das emissões globais são, por comparação com a escala do desafio, quase inexistente.
O problema é fácil de formular: o poder das empresas de combustíveis fósseis é muito grande. Entre aqueles que procuram e obtêm altos cargos existem pessoas caracterizadas por uma completa ausência de empatia ou escrúpulos, que recebem dinheiro e instruções de qualquer corporação ou bilionário que lhes ofereça, para em seguida defender seus interesses contra as perspectivas atuais e futuras da humanidade. Esta nova marca de 400ppm reflete um profundo fracasso da política, a nível mundial, na qual a democracia foi suplantada silenciosamente pela plutocracia. Sem uma reforma generalizada do financiamento de campanhas politicas e do lobby, do tráfico de influência e da corrupção sistemática que este promove, nossas chances de evitar um colapso climático estão perto de zero.
Pois aqui estamos em uma estação da estrada de idiotice, aparentemente determinados apenas a completar nossa viagem.
*Publicado em 10/05/2013 por George Monbiot no website do The Guardian.
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