quarta-feira, 24 de setembro de 2014

O bom e o ruim



O lado bom é que o CEO da Google, Eric Schmidt, disse hoje (24/09/2014) que a empresa errou ao apoiar o American Legislative Exchange Council, um grupo diz que a mudança climática pode ser benéfica e que se opõe à regulação ambiental. Ele chegou a dizer que a ALEC e outros grupos de duvidam das mudanças climáticas estão "literalmente mentido".

O lado ruim é que passou pela cabeça da diretoria da empresa apoiar este tipo de gente.

Brasil já é o quarto maior responsável pelo aquecimento global



Não dá mais para os representantes do governo brasileiro se esconderem atrás do discurso das responsabilidades comuns porém diferenciadas nas negociações internacionais do clima.

Um estudo publicado na revista científica Environmental Research Letters mostra que somente sete países são responsáveis por mais de 60% do aquecimento global. Na ordem: 1o. EUA; 2o. China; 3o. Rússia; 4o. Brasil; 5o. Índia; 6o. Alemanha; e 7o. Reino Unido. E o estudo não produziu este ranking se baseando nas emissões correntes de gases de efeito estufa, mas sim nas contribuições acumuladas para o aumento da temperatura global.

Os EUA são líderes inequívocos com 20% do aquecimento observado até agora, ou seja, somente os EUA aumentaram a temperatura média global em 0,15 oC. China e Rússia são responsáveis por 8% cada; Brasil e Índia por 7%; e Alemanha e Reino Unido por aproximadamente 5% cada.

O estudo National contributions to observed global warming pode ser obtido em http://iopscience.iop.org/1748-9326/9/1/014010

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Mudanças climáticas: o momento "Caraca!"

Artigo de Marlowe Hood* traduzido para o português por Délcio Rodrigues



PARIS (22/09/2014) Levei mais de dois anos embalando e etiquetando o insight surgido da meia década de cobertura de pandemias de gripe, partículas subatômicas furtivas e derretimentos de camadas de gelo. E tenho que agradecer a Godzilla (e, também, a um crítico de cinema) o momento de iluminação que colocou tudo em foco.

Apesar da longa gestação, senti o despertar do canto de cisne antes mesmo de um estalar de dedos: era um terço ciência, um terço saúde... e 100% mudança climática. Pelo menos essa é a maneira como senti quando experimentei o que o filósofo australiano e estudioso do clima Clive Hamilton - autor, notável, de "Réquiem para uma espécie” (que vem a ser a nossa) - chama de “momento caraca!”, quando todo o peso da calamidade que ameaça engolir violentamente nosso planeta se choca com nossa relutância instintiva em contemplar o final dos tempos.

Para mim, cético por natureza e formação, a trovoada veio enquanto conversava com um grupo de cientistas proeminentes ao qual tinha sido solicitado, para uma conferência de Oxford em 2009, que imaginasse um mundo com a atmosfera aquecida em 4oC. O que emergiu foi um quadro indescritível de miséria desoladora: guerras pela água, centenas de milhões de refugiados do clima, vetores de doenças galopantes, fome no atacado (o cenário de 4oC de aquecimento é hoje considerado como uma projeção "intermediária" para o final do século XXI).

Mas o verdadeiro choque “mijo-nas-calças” foi perceber que pode ser tarde demais para prender os cães do inferno. E se, em outras palavras, a distopia climática não for uma advertência fantasiosa, mas uma realidade produzida para a qual a humanidade está caminhando rapidamente em alegre abandono? Na verdade, o que faz os cientistas climáticos perderem o sono – e eu vi um deles explodir em lágrimas durante sua fala – é a possibilidade mensurável de termos estragado irrevogavelmente o termostato do planeta e colocado em movimento forças naturais que, em um relativo piscar de olhos, farão da Terra um lugar bem menos hospitaleiro para a nossa surpreendida espécie.

Do que eu estou falando? Recentemente soubemos, por exemplo, que o gigantesco Manto de Gelo da Antártida Ocidental ultrapassou um “ponto de não retorno” a partir do qual seu derretimento acelerado - desencadeado principalmente pelo aquecimento da água do oceano – se tornou o motor de sua própria morte, tanto causa como efeito. Isso significa que, mesmo que conseguíssemos zerar todas as emissões humanas de CO2 amanhã, mesmo assim, o Manto diminuirá até desaparecer, elevando o nível do mar em vários metros. Bye-bye Bangladesh e todos os demais megadeltas e seres humanos que nestes vivem e mal se alimentam do que neles plantam. Olá tempestades que farão Sandy parecer uma maré alta um pouco mais ventosa (haverá alguma justiça climática: a Flórida passará de pau grosso a lápis fino e todo o imprudente desenvolvimento costeiro será apagado). Se isso vai acontecer em um século ou três realmente não importa - ainda não haverá tempo suficiente para nos adaptarmos.

E isso é apenas um dos vários cataclismos autoengrenados prestes a derrubar o equilíbrio físico-químico que hoje os cientistas chamam de Sistema Terra. Outro é a grande reserva de carbono – equivalente a várias vezes todo o CO2 lançado até agora à atmosfera durante a era industrial - enterrada, principalmente na forma de metano, no que é equivocadamente chamado de ‘permafrost’ da Sibéria e do Canadá. As temperaturas subárcticas, que vêm aumentando duas vezes mais rápido que a média global, já começaram a liberar este tesouro tóxico enterrado, e – a partir de um certo ponto – não haverá maneira de parar o processo.

A parte assustadora é que podemos já ter ultrapassado este ponto sem saber disso.

Existe uma chance de que essas coisas não venham a acontecer? Claro. Há também uma chance de o Sol implodir antes que eu termine de digitar esta frase (Ufa! Essa foi por pouco). É tudo uma questão de calcular as probabilidades, a forma pela qual os cientistas falam sobre o futuro. Mas se você realmente ler os estudos e ouvir os especialistas, o prognóstico é realmente sombrio, sinistro como as imagens do Ceifador Sinistro, figura normalmente associada à morte.

Agora mesmo você deve estar se perguntando: “Se as coisas são assim tão ruins, por que eu já não sei disso?”

Talvez você saiba. Talvez você tenha ouvido a notícia... mas não estava realmente ouvindo. O instinto de sobrevivência reage instantaneamente quando enfrentamos um rinoceronte ou um drogado com uma pistola na mão. Mas, paradoxalmente, os seres humanos têm uma tendência comprovada a ignorar ameaças mortais que não requerem atenção imediata, por exemplo, um cataclismo climático. Longe dos olhos, longe do coração (quanto a isto, tanto Freud quanto os psicólogos evolucionistas concordam). Conviver com o apocalipse, afinal de contas, é por si só um “meme” para a loucura (lembre-se da imagem do barbudo solitário com um cartaz pendurado no pescoço dizendo "o final está próximo”).

Mas nem tudo é culpa sua. As pessoas que conhecem os fatos - ONGs ambientalistas, grandes poluidores, cientistas do clima - não estão dispostas, cada grupo por suas próprias razões, a tocar os sinos de alarme do nível DEFCON 1 (Nota do tradutor: DEFCON, ou ‘defense readiness condition’, é uma escala de alarme usada pelas forças armadas dos EUA; o nível 1, ou DEFCOM 1, é o mais rigoroso da escala e significa que uma guerra nuclear é iminente).

Os ambientalistas ainda estão se recuperando do fracasso espetacular que tiveram em 2009 quando marcaram a Cúpula do Clima de Copenhague como a “última chance”. Ficaram esgotados e perdidos, e desde aquele momento têm medo de soarem estridentes. Chame isso de síndrome do galinho Chicken Little.

Os que lucram com o carbono, é claro, tem toda a razão para minimizar a ameaça. E eles têm cinicamente gasto montes de dinheiro fazendo exatamente isso, sussurrando em nossos ouvidos que o risco é duvidoso e distante, enquanto o custo de agir agora seria ruinoso. E, mesmo quando o peso das evidências força os mais intransigentes céticos a admitir que a mudança climática é uma clara - e atual - ameaça, eles saem dizendo: “Agora é tarde demais, melhor nos prepararmos para o inevitável”. Foi quando o “Big Oil & Friends” veio a público propor soluções técnicas fantasiosas – como colocar um bilhão de minúsculos espelhos em órbita no espaço próximo, semear os oceanos com limalha de ferro ou estocar CO2 em cofres geológicos – para garantir o “business-as-usual”.

Finalmente, os cientistas são prejudicados pelos códigos e cultura de sua profissão. Tanto previsões quanto prescrições de políticas públicas os tornam enjoados. “Este não é meu trabalho” - já ouvi isso uma centena de vezes (A mídia, por sua vez, tornou as coisas piores, fabricando incertezas, adoramos uma corrida de cavalos. Quanto aos políticos, basta lembrar que eles não são eleitos pelas gerações futuras).

A revista científica Nature publicou uma figura que mostra os "limites planetários" para nove equilíbrios químico-biológicos distintos que, juntos, ajudam a compor o Sistema da Terra. Segundo os cientistas, a humanidade já está fora do "espaço seguro de operação" de pelo menos três destes: a mudança climática, o ciclo do nitrogênio e a perda de biodiversidade.

Mas há uma outra força - e é aí que entra Godzilla - que também nos impede de ver nosso futuro como uma mistura de “World War Z”, “O Dia Depois de Amanhã” e “Contágio”. Em uma palavra: a arrogância.

No original japonês de 1954, o pisoteador de cidades “Gojira” é um filho mutante e radiativo do nosso recente domínio sobre as partículas elementares. A fissão atômica prometeu armas capazes de acabar com as guerras e energia ilimitada, mas a relação custo/benefício da era atômica acabou por ser muito menos vantajosa do que a anunciada. Sessenta anos depois, sugere o crítico de cinema Andrew O'Hehir, Godzilla está de volta para nos lembrar mais uma vez que a tentativa de conquistar a natureza pode ter terríveis e inesperadas consequências.

Arrogância em escala global

A noção de que nossa espécie pode e deve moldar a Terra à sua própria vontade é na verdade completamente nova. Ela surgiu com o Iluminismo e floresceu juntamente à revolução industrial, reforçada pela certeza de que a Ciência, a Tecnologia e a Educação quebrariam as correntes históricas de ascensão e declínio e impulsionariam a humanidade ao longo de uma espiral sempre crescente de interminável progresso. Para os pensadores do século 19 de todos os tipos – de Marx a Mill, de socialistas a darwinistas sociais – a inata engenhosidade e superioridade humana impulsionaria a transformação enquanto a natureza proveria uma quantidade inesgotável de matérias primas.

Na antiga tragédia grega, a arrogância - um coquetel de orgulho e excesso de confiança – condena o protagonista voluntarioso a um fim prematuro. Mas a nossa tragédia moderna está sendo encenada em um palco maior, e o personagem central é, sem dúvida, a própria humanidade.

O culto do Progresso, com 'P' maiúsculo, seguiu em grande parte sem contestação até meados da segunda metade do século 20. Mas, então, sinais de alerta começaram a aparecer em todo lugar. Hoje, os sinais de alerta se transformaram em ameaças existenciais: a nova era de extinção em massa, apenas a sexta em 500 milhões anos; um flagelo de doenças não mais intimidadas pelos antibióticos que uma vez pensamos iriam destruí-las; buracos gigantes no tecido da nossa estratosfera; um crescendo de secas, incêndios, inundações e tempestades; oceanos subindo e morrendo simultaneamente.

Pela primeira vez em 4,57 bilhões de anos de história do nosso planeta, uma única espécie não só alterou a morfologia, a química e a biologia da Terra, mas está ciente de ter feito isso. A ruptura é tão radical que muitos cientistas concordam com a ideia de que nossas ações inauguraram uma era geológica distinta. Como disse Erle Ellis, da Universidade de Maryland: “Nós não sabemos o que vai acontecer no Antropoceno (era dos seres humanos). Pode ser bom, ou até melhor. Mas precisamos pensar de forma diferente e globalmente, para tomar posse do planeta”.

“Apropriar-se do planeta”. A arrogância de nossa espécie tem sido dupla. Em primeiro lugar, nós imaginamos que poderíamos trazer a Terra de joelhos a serviço das nossas necessidades e desejos. E então, quando confrontados com evidências de que estamos envenenando a família, bem, nós persistimos em acreditar que podemos inventar uma nova fonte de água.

Mesmo o grito de guerra dos ecoguerreiros, já velho de décadas, trai uma arrogância descabida. Quando os ambientalistas exigem a salvação do planeta, o que eles realmente querem dizer é “Salve nossa Espécie”. O planeta não precisa de salvamento, nós sim. Se os seres humanos realmente fizerem naufragar a complexa teia de interações químicas e biológicas que atualmente sustenta a vida, a Terra vai encontrar um novo equilíbrio, como sempre fez. Para nossa espécie, por outro lado, a transição pode ser rude demais.

Pense nisso desta maneira: Deus(es) não pode(m) ser indiferente(s) ao seu sofrimento, mas a natureza o é. Só arrogância nos impede de perceber que a Terra pode chacoalhar-nos para fora como um parasita irritante, permitindo a alguma outra forma de vida tomar o nosso lugar.

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* Marlowe Hood foi correspondente da AFP na cobertura de ciência, saúde e meio ambiente de 2007 a 2012 e publicou este artigo em http://blogs.afp.com/correspondent/?post/Ice-sheets%2C-Godzilla-and-hubris.

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Energia: um futuro renovável*

Se assumirmos que a civilização humana existirá por pelo menos mais mil anos, então certamente chegaremos um sistema de energia 100% renovável. Todas as reservas existentes de combustíveis fósseis e aquelas ainda não descobertas destes fósseis e de minerais radioativos acabarão por se esgotar até lá ou serão caras demais para serem extraídas.

Os formuladores de políticas muitas vezes agem como se tivéssemos todo o tempo do mundo. Infelizmente não temos.

Como a ciência mostra claramente, as emissões de CO2 e outros gases de efeito estufa devem atingir seu máximo e começar a declinar em menos de uma década [1] se quisermos manter o teto de 2°C para o aumento da temperatura média global, meta com a qual se comprometeram os governos de 192 países membros da Convenção Clima das Nações Unidas (UNFCCC).

Como mostra claramente o relatório sobre impactos climáticos do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) lançado em março deste ano [2], acima de 2°C de aumento da temperatura média global a civilização humana tal como a conhecemos (sem mencionar o resto da biosfera) estará em sérios apuros.

Assim, a pergunta não é mais “se” teremos um futuro com 100% de energia renovável, mas sim “como?” e, ainda mais importante, “quão rápido podemos fazer isso?” e “quanto isso vai custar?”.

“Não precisamos gastar os olhos da cara salvando o planeta”, disse o co-presidente do Grupo de Trabalho III do IPCC Ottmar Edenhofer ao apresentar o capítulo “mitigação” do relatório do IPCC em Berlim, em abril passado [3]. Baseados no que agora sabemos, atingir metas climáticas rigorosas custará algo próximo a 0,06% do crescimento anual do PIB durante o resto do século, e isso sem levar em conta as vidas que serão salvas ou muito dos danos climáticos evitados. E sem levar em conta, também, a queda drástica dos custos da energia solar e da energia dos ventos dos últimos 2 ou 3 anos.

Mas as energias renováveis podem dar sua importante contribuição por conta própria? Hoje? Não. Amanhã? Por que não?

Enquanto não é difícil encontrar especialistas que afirmam que as energias renováveis não podem alimentar totalmente nossos sistemas de energia, são poucas as análises que sustentam estas declarações. Ouve-se geralmente algo como “o que você faz quando o Sol não brilha ou o vento não sopra?” acompanhado de justificativas para a utilização da tecnologia favorita do especialista, seja ela nuclear, “carvão limpo”, captura e armazenamento de carbono (CCS) ou alguma outra variação do sistema de energia que nos meteu nesta bagunça climática.

Eles convenientemente esquecem que as fontes hídrica, biomassa, solar térmica, geotérmica são tão variáveis quanto a energia dos ventos e a solar fotovoltaica. Esquecem-se que o Brasil, a Noruega e a Nova Zelândia têm sua oferta de eletricidade quase 100% renovável, e que a Dinamarca, a Suécia e outros países estão se movendo nessa direção.

Esquecem-se que com redes de transmissão de ampla cobertura e potência a energia pode ser levada com eficiência de uma região a outra e esquecem o crescente movimento de proprietários de habitações e de empresas pela autossuficiência de suas edificações, principalmente por meio da instalação de sistemas descentralizados de geração de energia solar fotovoltaica e de outras tecnologias de pequena escala cujos custos caíram drasticamente nos últimos anos.

Com armazenamento suficiente (por bombeamento de água, ar comprimido, baterias, células de combustível etc.), usinas renováveis e despacháveis suficientes e com eficiência energética, conservação de energia, redes inteligentes e sistemas de gestão da demanda, certamente é tecnicamente viável alimentar nossa economia com 100% de energia renovável, como várias simulações feitas em diferentes partes do mundo têm mostrado.

Além disso, nos países de grande penetração de fontes renováveis, como a Dinamarca por exemplo, se observa uma participação muito maior da energia elétrica no sistema de energia total, não só para o transporte, mas para o aquecimento também.

O fato é que um futuro 100% renovável é tecnicamente viável, e terá baixo ou nenhum impacto negativo sobre o PIB, especialmente quando se for considerada a economia de combustível envolvida na maioria dos casos e a necessária remoção de US$650 bilhões ao ano - ou mais - em subsídios à produção e ao consumo de combustíveis fósseis. A questão é saber se é politicamente viável.

Nós realmente temos muito pouco tempo para agir antes que a situação climática passe de mal a catastrófica, o que pode fazer com que a tomada de decisões saia das mãos de governos democraticamente eleitos para as dos serviços de emergência e até, nos piores casos, das forças armadas.

Os elevados custos de capital necessários para investimento em um futuro renovável serão mais do que pagos pela economia de combustível, sem mencionar todas as outras economias que serão obtidas pela redução de despesas em campos de refugiados, diques e combate a incêndios. No entanto, a verdadeira questão não é se podemos ou não pagar. Nós claramente não poderemos pagar pelos custos da inação... e não temos muito tempo.

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*Steve Sawyer (Secretário Geral do Global Wind Energy Council - GWEC); publicado originalmente no Huffington Post - http://www.huffingtonpost.com/stevesawyer/a-renewable-energy-future_b_5725712.html e traduzido por Délcio Rodrigues.

[1] http://www.ecofys.com/en/publication/feasibility-de-GEE de emissões-phase-out-a-meio-century/
[2] A contribuição do Grupo de Trabalho II do IPCC para o 5º Relatório de Avaliação de impactos, adaptação e vulnerabilidade foram lançadas em Yokohama, Japão, em 31 de março de 2014 - www.ipcc.ch
[3] Ver http://www.mitigation2014.org

A eficiência energética foi promovida de “combustível escondido” a “principal combustível” pela Agência Internacional de Energia



O consumo de energia evitado pelos países membros da AIE em 2010 foi maior do que a demanda satisfeita por qualquer outra fonte de energia individual - incluindo petróleo, carvão e gás.

O relatório mostra que a eficiência energética pode gerar benefícios à saúde quatro vezes maiores que o custo de ampliação dos sistemas energéticos, liberando mais energia a ser usada para os usos de aquecimento, refrigeração e ar condicionado e, assim, melhorando a saúde das pessoas por meio da redução de uma vasta gama de alergias, problemas cardiovasculares e outras doenças.

A eficiência energética pode melhorar, também, a produtividade industrial em 250%, ao baixar os custos da energia na cadeia de abastecimento e, assim, tornar os produtos mais baratos e mais competitivos, ou liberando recursos para serem usados em outras melhorias.

A AIE também descobriu que o tempo de retorno dos investimentos em eficiência energética caiu de 4,2 para 1,9 anos. Já que a maioria das empresas fazem seus cálculos financeiros considerando horizontes de tempo relativamente curtos, esta descoberta pode alterar a forma como muitas empresas pesam os benefícios de eficiência em relação ao custo inicial de investimento nas melhorias.

A eficiência energética também pode melhorar as contas nacionais reduzindo o custo da energia na infraestrutura pública, e pode aumentar o acesso à energia para as populações de baixa renda, tornando a energia mais barata.

O relatório pode ser comprado em http://www.iea.org/newsroomandevents/pressreleases/2014/september/name-125300-en.html

Lord Stern rides again

O mundo ainda pode evitar os piores efeitos da mudança climática e desfrutar dos frutos de um crescimento econômico continuado desde que a economia global se transforme dentro dos próximos 15 anos.

Combater as mudanças climáticas pode ser uma benção para a prosperidade, ao invés de um freio, mostra um estudo lançado hoje (16/09/2014) e que foi produzido por algumas das maiores instituições mundiais, entre elas a ONU, a OCDE, o FMI e o Banco Mundial. O estudo teve coautoria de Lord Stern, uma das vozes mais influentes na economia do clima.

Os autores argumentam que a transformação econômica proposta melhorará a vida de bilhões de pessoas que hoje sofrem com a poluição do ar nas cidades e de agricultores que lutam com solos pobres em países em desenvolvimento.

Porém, esta mudança exigirá uma forte ação política que defina limites para as emissões de dióxido de carbono e promova alternativas como a energia renovável, cidades sustentáveis, técnicas agrícolas modernas e sistemas de transporte melhor concebidos.

Se espera um crescimento populacional de alguns bilhões nas próximas duas décadas e trilhões de dólares em crescimento econômico. Mas se este crescimento maciço das cidades do mundo em desenvolvimento for mal gerido, e se o investimento global for feito em infraestrutura intensiva em carbono, a oportunidade única de mudança do padrão de prosperidade terá sido perdida e, como resultado, bilhões de pessoas ficarão mais pobres.

O relatório BETTER GROWTH, BETTER CLIMATE pode ser acessado em:
http://static.newclimateeconomy.report/TheNewClimateEconomyReport.pdf

Insônia

Sergio Abranches acabou com minha noite de sono. Por meio dele fiquei sabendo ontem à noite que o laboratório NOAA da NASA divulgou que o ano passado foi o quarto ano mais quente desde que as temperaturas mundiais começaram a ser medidas com precisão, em 1880. E que 2013 foi o 37o ano consecutivo em que a temperatura média anual ficou acima da média do século 20 e o 46o em que fica acima da média histórica.
Com isto, 9 dos 10 anos mais quentes nos últimos 134 anos são do século 21.
Sonhei com o Pré-Sal.

A seca agride o sudeste ao mesmo tempo em que secam os "Rios Voadores" da Amazônia*

Cientistas afirmam que o desmatamento e as mudanças climáticas são responsáveis pelas florestas não produzirem as nuvens de vapor que trazem chuva para o centro oeste e sudeste do Brasil



A seca sem precedentes que afeta São Paulo é atribuída à ausência dos “rios voadores”, as nuvens de vapor da Amazônia que normalmente trazem chuva para o centro e o sul do Brasil.

Alguns cientistas brasileiros afirmam que a falta de chuva que secou rios e reservatórios na região central e sudeste do Brasil não é apenas um capricho da natureza, mas uma mudança provocada por uma combinação do desmatamento contínuo da Amazônia com o aquecimento global.

Esta combinação, dizem eles, está reduzindo o papel de “bomba d’água gigante” da floresta amazônica que libera bilhões de litros de vapor d'água das árvores para a atmosfera.

O meteorologista José Marengo, membro do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, foi o primeiro a cunhar o termo “rios voadores” para descrever os grandes volumes de vapor que sobem da floresta, viajam em direção ao oeste e então, bloqueados pela Cordilheira dos Andes, voltam-se para o sul do continente.

As imagens de satélite do Centro de Previsão de Tempo e Clima do INPE mostram claramente que, durante janeiro e fevereiro deste ano, os rios voadores não conseguiram chegar ao sudeste, ao contrário dos cinco anos anteriores.

O desmatamento em todo o Brasil atingiu proporções alarmantes: 22% da Amazônia), 47% do Cerrado e 91,5% da mata atlântica.

Os últimos números do Deter, o sistema de detecção de desmatamento em tempo real baseado em imagens de satélite operado pelo INPE, mostram que, depois de cair por dois anos, o desmatamento na Amazônia voltou a subir em 10% entre agosto de 2013 e julho de 2014.

Tocantins, Pará e Mato Grosso, os três estados da região amazônica que mais sofreram desmatamento, registram temperaturas médias mais elevadas.

Já em 2009, Antônio Nobre, um dos principais cientistas do clima do Brasil, alertou que, sem os “rios voadores”, a região que produz 70% do PIB da América do Sul se transformaria em deserto.

Em uma entrevista ao jornal Valor Econômica Nobre disse que "destruir a Amazônia para o avanço da fronteira agrícola é como dar um tiro no próprio pé. A Amazônia é uma bomba hidrológica gigantesca que puxa umidade do Atlântico para o continente e garante a irrigação da região”.

“É claro que precisamos de agricultura”, disse ele, “mas sem árvores não haveria água e sem água não há comida”.

“Uma tonelada de soja precisa de várias toneladas de água para ser produzida. Quando exportamos soja, estamos exportando água doce para países que não têm esta chuva e não podem produzir. É o mesmo com o algodão e o etanol. A água é o principal insumo agrícola. Se não fosse assim o Saara seria verde porque tem um solo extremamente fértil”.

Como outros cientistas do clima, Nobre acha que o papel da floresta Amazônica na produção de chuva tem sido subestimado. Em um único dia, a região amazônica bombeia 20 bilhões de toneladas de vapor para a atmosfera, mais do que as 17 milhões de toneladas de água que o rio Amazonas descarrega a cada dia no Atlântico.

“Uma árvore grande com uma copa de 20 metros de diâmetro evapora até 300 litros por dia. Um metro quadrado de floresta pode conter entre oito e 10 metros quadrados de superfície de folhas e evapora de oito a 10 vezes mais do que a mesma área de oceano. Este rio voador, que sobe para a atmosfera na forma de vapor, é maior que o maior rio da Terra”.

O temor é que, se a floresta amazônica continuar a ser desmatada no ritmo atual, eventos como a seca sem precedentes de 2010 ocorrerão com maior frequência. As queimadas feitas pelos agricultores para limpar áreas para plantio ou criação de gado a tornarão mais vulnerável.

Nobre explicou: "A fumaça de incêndios florestais introduz muitas partículas na atmosfera, seca as nuvens, e não chove. Durante o período de seca, e de incêndios, a floresta sempre reteve um pouco de chuva que a deixava úmida e não-inflamável, mas agora dois meses se passam sem chuva, a floresta fica muito seca e o fogo lambe o solo da floresta. As árvores da Amazônia, ao contrário das do Cerrado, não têm resistência ao fogo".

O aviso de Nobre feito em 2009 dizia que, se o desmatamento não cessasse, haveria uma catástrofe em cinco ou seis anos. Cinco anos depois, suas palavras provam terem sido proféticas enquanto São Paulo e todo centro e o sudeste do Brasil sofrem sua pior seca, com efeitos devastadores sobre a agricultura, a geração de energia e abastecimento doméstico e industrial de água.
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* Jan Rocha para a Climate News Network, publicado em www.theguardian.com em 15/09/2014; traduzido por Délcio Rodrigues