segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Vou com o Bandeira para Pasárgada

O relatório do IPCC da semana passada disse que, para manter o aquecimento do planeta dentro do limite de 2oC, a emissão total acumulada de carbono fóssil não poderá ultrapassar 1.000 gigatoneladas e que a queima de petróleo, carvão e gás desde a revolução industrial já havia mandado para a atmosfera 531 gigatoneladas até 2011, mais da metade do limite.

O cálculo do painel de cientistas mostra que, na velocidade que a economia global está queimando estes combustíveis, alcançaremos o limite em não mais de 25 anos.

Não era de se esperar que os governos do mundo todo estivessem buscando soluções ousadas para a urgência?

Mas, no “mundo real”, estas são as notícias:
- Os EUA quadruplicaram nos últimos anos as reservas mundiais de gás de xisto para o equivalente a 200 anos de consumo, o que baixou o preço nos Estados Unidos a menos da metade da média mundial;
- A Noruega abriu uma nova área no Ártico à perfuração de petróleo offshore;
- A Rússia explora petróleo nas áreas do Ártico acessíveis devido ao derretimento de sua capa de gelo e prende por pirataria quem protesta;
- A Petrobras tem como meta alcançar em 2017 produção diária superior a 1 milhão de barris de óleo nas áreas do Pré-Sal;
- O leste da África é visto pela indústria do Petróleo como a nova terra prometida, o próximo epicentro da exploração global de gás natural.

Será que o poeta me apresentaria o rei seu amigo?

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Mudança climática? Que tal ruptura climática catastrófica?

Do blog do George Mombiot - A mensagem do novo relatório do IPCC é familiar e demolidora: tudo é tão ruim quanto pensávamos que fosse.

Poucas horas depois de seu lançamento já milhares de blogs e colunas mundo afora insistem em que o novo relatório do IPCC sobre a ciência da mudança climática é uma mistura raivosa de histórias de terror cuja finalidade é destruir a economia global. Mas na realidade o relatório é muito conservador.

O processo de alcançar um acordo entre centenas de autores e revisores garante que somente as afirmações de mais difícil disputa são autorizadas a passar. Mesmo quando há acordo entre os cientistas, o relatório ainda é temperado em outra forja, já que políticos questionam tudo o que lhes parece desagradável: o novo relatório recebeu 1.855 comentários de 32 governos e as discussões duraram toda a noite anterior ao lançamento.

Em outras palavras, este é, talvez, o maior e mais rigoroso processo de revisão por pares realizado em qualquer área científica e em qualquer momento da história humana.

Não há rupturas radicais neste relatório em relação ao anterior de 2007, apenas mais evidências que demonstram o grau de aumento da temperatura global, o derretimento e diminuição do gelo sobre o mar, o recuo das geleiras, o aumento do nível e a acidificação dos oceanos e as mudanças nos padrões climáticos. A mensagem é familiar e demolidora: "tudo é tão ruim quanto pensávamos que fosse".

O que o relatório descreve, em sua linguagem seca e meticulosa, é o colapso do clima benigno em que os seres humanos evoluíram e prosperaram e a perda de condições ambientais das quais muitas outras formas de vida dependem. As mudanças climáticas e o aquecimento global são termos inadequados para o que o relatório revela. A história que ele conta é de colapso climático.

Esta é uma catástrofe que somos capazes de prever, mas incapazes de imaginar. É uma catástrofe frente à qual estamos singularmente mal equipados para prevenir.

Os relatórios do IPCC atraem a negação em todas as suas formas: de um tranquilo dar de ombros - a resposta da maioria das pessoas - à rejeição aguda. Apesar - ou talvez por causa - de seu rigor, os relatórios do IPCC atraem uma magnífica coleção de teorias da conspiração: o Painel está tentando taxar-nos de volta à idade da pedra ou estabelecer uma ditadura nazista/comunista na qual ficaremos amontoados em acampamentos e forçados a remendar nossas próprias bicicletas (e eles chamam os cientistas de alarmistas...).

Nos jornais Mail e Telegraph, e nos porões da internet, o relatório do IPCC (ou um rascunho que vazou há algumas semanas) foi escarafunchado na procura de quaisquer incertezas que pudessem ser usadas para desacreditá-lo. O Painel informa que em todos os continentes, exceto na Antártida, é provável que o aquecimento provocado pelo homem tenha contribuído para a temperatura superficial. Portanto, aqueles que se sentem ameaçados pelas evidências ignoram os outros continentes e se concentram na Antártida, como prova de que a mudança climática causada pelos combustíveis fósseis não pode estar acontecendo.

Eles fazem grande alarde do reconhecimento feito pelo IPCC de que houve uma "redução na tendência de aquecimento da superfície no período de 1998-2012", mas de alguma forma ignoram que a última década ainda é a mais quente até hoje registrada por instrumentos.

Eles manejam para negligenciar a conclusão do Painel que esta desaceleração da tendência deve ter sido causada por erupções vulcânicas, variações na radiação solar e, também, pela variabilidade natural do ciclo planetário.

Se não fosse pelo aquecimento global provocado pelo homem, esses fatores poderiam ter feito o mundo significativamente mais frio durante este período. O fato de ter havido um aumento ligeiro na temperatura mostra o poder da contribuição humana.

Mas a negação é apenas uma parte do problema. Mais significativo é o comportamento dos poderosos que afirmam aceitar as evidências. Esta semana a ex-presidente irlandesa Mary Robinson acrescentou sua voz a uma chamada que alguns de nós vimos fazendo há anos: o único meio eficaz de prevenir o colapso climático é deixar os combustíveis fósseis no subsolo. Pergunte a qualquer ministro sobre este assunto em particular e, de uma forma ou de outra, eles vão admitir esta verdade. No entanto, nenhum governo vai agir assim.

Como que para marcar a publicação do novo relatório o Department for Business, Innovation and Skills estampou um cartaz gigante em suas janelas: "Petróleo e gás: energia para a Grã-Bretanha. £ 13,5 bilhões estão sendo investidos na exploração de petróleo e gás no Reino Unido este ano, mais do que em qualquer outro setor industrial".

A mensagem não poderia ter sido mais clara se tivessem dito "dane-se". É um exemplo do modo pelo qual todos os governos colaboram com o desastre que publicamente lamentam. Eles sabiamente demonstram concordar com a necessidade de fazer algo para evitar a catástrofe prevista pelo painel, enquanto promovem as indústrias que a causam.

Não importa quantos geradores eólicos ou painéis solares e usinas nucleares forem construídos se não aposentarmos simultaneamente a produção de combustíveis fósseis. Precisamos de um programa global cujo objetivo é deixar a maioria das reservas de petróleo e gás e carvão enterradas onde estão ao mesmo tempo em que desenvolve novas fontes de energia e reduz a incrível quantidade de energia que desperdiçamos.

Mas, longe de fazê-lo, os governos em todos os lugares ainda estão tentando espremer cada gota de suas reservas e garantir acesso às dos outros. Enquanto as reservas mais acessíveis são esvaziadas, as empresas de energia exploram as partes mais remotas do planeta, subornando e intimidando governos para que as permitam abrir lugares ainda inexplorados: do fundo do oceano às regiões abertas pelo degelo do Ártico.

E os governos que permitem esta exploração choram lágrimas negras e pegajosas sobre a situação do planeta.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Por que a Apple é tão evasiva sobre como fabrica o iPhone?


Foto: Friends of the Earth; Gallery - Mining for mobiles: devastation in Indonesia.
Artigo de George Monbiot publicado no The Guardian no dia 23 de setembro de 2013.

“Empresa modelo” da moderna tecnologia perde seu brilho por esquivar-se de perguntas sobre mineração de estanho ilegal na Indonésia.

Você está animado com o lançamento dos novos iPhones da Apple? Você decidiu comprar um? Você tem alguma ideia do que você está comprando? Se assim for, você está por conta própria. Quando perguntada sobre onde obtém seus minerais, a Apple, que tanto tem feito para nos convencer de que é hábil, legal, ágil e ‘cool’, parece arrogante, pesada e inexplicável.

A pergunta era simples: a Apple compra estanho de Bangka Island? O contorcionismo feito para responder foi quase cômico.

Quase metade da oferta mundial de estanho é usada na solda de aparelhos eletrônicos. Cerca de 30% de estanho do mundo vem de Bangka e Belitung, ilhas na Indonésia, onde uma orgia de mineração não regulamentada está reduzindo um sistema florestal rico e complexo a uma paisagem pós-holocausto de areia e subsolo ácido. Dragas de estanho nas águas costeiras estão acabando também com corais, moluscos gigantes, pesca local, ameaçando o peixe bodião, os manguezais e as praias usadas pelas tartarugas para reprodução.

Ali crianças são empregadas em condições chocantes e, em média, um mineiro morre a cada semana em acidentes de trabalho. A água limpa está desaparecendo, a malária está se espalhando devido à reprodução de mosquitos nas cavas abandonadas pela mineração, e os pequenos agricultores estão sendo expulsos de suas terras. E os fabricantes de eletrônicos – esses modelos de modernidade – contam com estas práticas fora de moda para seu fornecimento.

A ONG Amigos da Terra e seu parceiro indonésio, Walhi, os quais documentaram essa catástrofe, não estão clamando pelo fim da mineração de estanho em Bangka e Belitung: eles reconhecem que a atividade mantem muitas pessoas que não encontrariam trabalho em outro lugar. O que eles querem é transparência da parte das empresas que compram o estanho extraído lá, o que poderia iniciar um acordo para redução dos impactos e pela proteção das pessoas e dos animais selvagens. Sem transparência, não há responsabilidade, sem responsabilidade não há nenhuma perspectiva de melhora.

Eles abordaram os maiores fabricantes de smartphones do mundo, perguntando se estes estão usando estanho de Bangka. Todos, exceto uma das grandes marcas, reconheceram que sim. Samsung, Philips, Nokia, Sony, BlackBerry, Motorola e LG admitiram a compra (ou a provável compra) de estanho da ilha por meio de intermediários, e se comprometeram a ajudar a resolver a bagunça. Mas uma empresa se recusa a falar.

Tim Cook, executivo-chefe da Apple, afirmou no ano passado: "queremos ser tão inovadores com nosso suprimento como somos com nossos produtos. Isto é como salto de vara. Quanto mais transparente formos, mais seremos vistos pelo público. Quanto mais formos vistos, mais outras empresas decidirão fazer algo similar". Que bom seria, se a Apple não parecesse a seguir política oposta.

Mobilizados pela ONG Amigos da Terra, 25 mil pessoas já escreveram para a empresa perguntando se ela está comprando estanho da zona de desastre ecológico da Indonésia. A resposta foi um sonoro "não falamos disto".

Abordei a Apple na semana passada, no que parecia ser o tipo de entrevista que você consegue com alguém que vende televisores atrás de um caminhão. O diretor de relações públicas da empresa recusou-se a deixar-me gravar a conversa e insistiu que esta deveria acontecer ‘off the record’, para pano de fundo da informação somente. Depois de tudo isto o que ele me disse foi... absolutamente nada. Tudo o que ele queria fazer era me dirigir de volta à página sobre a qual eu tinha perguntas.

Esta página diz, com a ambiguidade desconcertante, que "Bangka Island, Indonésia, é uma das principais regiões produtoras de estanho do mundo. Preocupações recentes sobre a extração ilegal de estanho desta região levaram a Apple a fazer uma visita de averiguação para saber mais." Por que realizar uma visita de averiguação, se você não usa o estanho da ilha? E se você estiver usando, por que não dizê-lo? Nenhuma resposta.

Hoje eu lhe fiz um conjunto diferente de perguntas. Em um artigo anterior, em março, elogiei a Apple pelo mapeamento de sua cadeia de suprimentos que revelou o uso de metais processados por 211 fundições em todo o mundo. Mas, tendo em vista a sua resposta ridícula para as minhas perguntas sobre Bangka, comecei a me perguntar o quão confiável seria este esforço. A Apple ainda não nomeou qualquer uma das empresas da lista, ou forneceu qualquer informação útil sobre seus fornecedores.

Então perguntei ao diretor de RP se poderia ver a lista, e se ela foi auditada: em outras palavras, se há alguma razão para acreditar que esta é um passo para a verdadeira transparência. Sua resposta? Dirigiu-me de volta à mesma página. Desnecessário dizer que ao lê-la pela quarta vez achei-a tão (des)informativa como da primeira.

Enquanto eu estava arrancando meus cabelos com as evasivas da Apple, a empresa Fairphone lançava seu primeiro aparelho no London Design Festival. Esta empresa não se formou apenas para construir um genuíno smartphone ético, mas também para tentar mudar o modus operandi das cadeias de suprimento e das estratégias de trabalho. Parece tudo o que a Apple deveria ser, mas não é. Embora seu primeiro telefone não venha a ser entregue antes de dezembro, a empresa já vendeu 15 mil aparelhos para pessoas que querem a tecnologia do século 21 sem a ética do século 19.

O Projeto Restart, que ajuda as pessoas a reparar os seus próprios telefones (algo que os produtos da Apple, muitas vezes parecem concebidos para frustrar) estava no mesmo festival, apontando que o aparelho mais ético é o que você tem no seu bolso, mantido para superar sua obsolescência programada.

Esta não é a única maneira pela qual a Apple parece desatualizada. Na semana passada, 59 organizações lançaram campanha para uma lei europeia mais rígida que obrigue as empresas a investigar suas cadeias de fornecimento e publicar relatórios sobre os impactos sociais e ambientais destas. Por que uma empresa pode ser capaz de escolher se quer ou não deixar seus clientes e acionistas no escuro? Por que não devemos saber tanto sobre seus impactos como sabemos sobre a sua situação financeira?

Até que a Apple responda às perguntas feitas por aquelas 25 mil pessoas, até que mostre a transparência que Tim Cook prometeu, mas não entregou, não compre seus produtos. Feita por uma empresa que parece matreira, inexplicável e, francamente, ridícula, eles são o epítome do ‘uncool’.

Lendo os jornais

Lord Stern: cada vez gosto mais deste cara. Ele disse que os governos devem tratar "apenas como ruido" o que dizem os céticos às mudanças climáticas. Em entrevista ao The Guardian falou que "é irracional e não-científico" sugerir que os riscos são pequenos; "Como eles podem dizer que conhecem os riscos e que estes são pequenos? A conclusão clara de 200 anos de ciência e observação climática mostra uma forte associação entre o aumento da concentração de dióxido de carbono e a temperatura da superfície global".

Greenpeace x Putin: finalmente o Greenpeace arrumou um bom inimigo: o Putin comparou o protesto do GP com o ataque ao shopping de Nairobi. Disse que os oficiais que prenderam o navio e sua tripulação “não sabiam quem estava tentando abordar a plataforma disfarçado de Greenpeace”. E tascou: “Especialmente tendo em conta os acontecimentos no Quênia, na verdade, qualquer coisa pode acontecer".

terça-feira, 10 de setembro de 2013

O Estado trapaceiro de Obama

EUA apela a outros países que respeitem os mesmos tratados que viola
George Monbiot; The Guardian; 09/09/2013

É quase possível ter pena dessa gente. Ao longo de 67 anos vários e sucessivos governos dos EUA resistiram aos apelos pela reforma do Conselho de Segurança da ONU defendendo um sistema que concede a somente cinco países o poder de veto sobre a política mundial enquanto reduz todos os outros a espectadores impotentes. Estes países têm abusado dos poderes e da confiança com que foram investidos. Os EUA tem mantido com os outros quatro membros permanentes (Grã-Bretanha, Rússia, China e França) uma divisão colonial, por meio da qual estas nações podem perseguir seus próprios interesses corruptos em detrimento da paz e da justiça global (1).

Os EUA já exerceu seu direito a veto por 83 vezes (2). Em 42 dessas ocasiões o fez para evitar que Israel fosse censurado pelo tratamento dado aos palestinos (3). Na última ocasião, 130 países apoiaram a resolução, mas Obama a detonou (4). Apesar do poder de veto ter sido utilizado com menos frequência desde o colapso da União Soviética em 1991, os EUA o exerceu por 14 vezes desde então (em 13 casos para proteger Israel), enquanto a Rússia o usou nove vezes (5). Cada vez mais os membros permanentes têm usado a ameaça do veto para impedir a discussão de resoluções. Eles têm intimidado o resto do mundo ao silêncio.

Através deste poder tirânico - criado num momento em que outras nações estavam alquebradas ou sem voz - os grandes senhores da guerra dos últimos 60 anos continuam a ser responsáveis pela paz mundial. Os maiores comerciantes de armas detêm a tarefa do desarmamento global. Aqueles que pisam na lei internacional detêm a administração da justiça (6).

Mas agora, quando o poder de veto de dois membros permanentes (Rússia e China) obstrui sua tentativa de derramar gasolina sobre outro fogo do Oriente Médio, os EUA decidem repentinamente que o sistema é ilegítimo. "Se", diz Obama, "transformarmos o Conselho de Segurança da ONU não em um meio de forçar o cumprimento das normas e leis internacionais, mas sim numa barreira... então eu acho que as pessoas, com razão, vão se tornar muito céticas sobre o sistema” (7). Bem, parece verdade.

Nunca Obama, ou seus antecessores, tentou uma reforma séria do sistema. Nunca procuraram substituir uma oligarquia global corrupta por um corpo democrático. Nunca lamentaram esta injustiça - até se oporem ao resultado. O mesmo vale para todos os aspectos da governança global.

Barack Obama alertou na semana passada que o uso pela Síria de gases venenosos “ameaça reverter a norma internacional contra as armas químicas abraçada por 189 nações” (8) . Esclarecendo a norma internacional é o trabalho do presidente dos EUA.

Em 1997 os Estados Unidos concordaram em destruir em 10 anos as 31 mil toneladas de gases Sarin, VX, mostarda e outros agentes que possuía. Em 2007, solicitou a extensão máxima de prorrogação permitida pela Convenção sobre Armas Químicas: cinco anos. Mais uma vez não conseguiu manter a sua promessa (9) e em 2012 alegou que destruiria os estoques até 2021 (10). Seria a nação mais rica do mundo incapaz de concluir esta tarefa em tempo? Ou estaria apenas sem vontade? A Rússia pediu à Síria que coloque suas armas químicas sob controle internacional (11). Talvez devesse pressionar os EUA a fazerem o mesmo.

Em 1998 a administração Clinton forçou uma lei por meio do Congresso que proibia aos inspetores internacionais de armas recolherem amostras de produtos químicos nos EUA. A mesma lei permitiu ao presidente a recusa de inspeções não anunciadas (12). Em 2002, o governo Bush forçou a demissão de José Maurício Bustani, diretor-geral da Organização para a Proibição de Armas Químicas (13, 14). Bustani tinha cometido dois crimes imperdoáveis: buscar uma rigorosa inspeção das instalações norte-americanas e pressionar Saddam Hussein a assinar a Convenção de Armas Químicas, para ajudar a prevenir a guerra que George Bush estava louco para travar.

Os EUA usou milhões de litros de armas químicas no Vietnã, Laos e Camboja. Também as usou durante a destruição de Falluja, em 2004, e depois mentiu sobre isso (15, 16). O governo Reagan ajudou Saddam Hussein em uma guerra contra o Irã na década de 1980, mesmo consciente de que Saddam usava os gases mostarda e nervoso (17) (O governo Bush, 15 anos depois, citou estes fatos como desculpa para atacar o Iraque).

A varíola foi eliminada da população humana, mas duas nações - Estados Unidos e Rússia - insistem em manter o patógeno em câmara fria. Eles afirmam que seu objetivo é desenvolver defesas contra um possível ataque com armas biológicas, mas a maioria dos especialistas da área considera que isto é um disparate (18). Ao levantar preocupações sobre a posse da doença um do outro, eles colaboraram na ameaça aos outros membros da Organização Mundial de Saúde, que os têm pressionado a destruir seus estoques (19).

Em 2001 o New York Times relatou que, mesmo sem supervisão do Congresso ou declaração nos termos da Convenção de Armas Biológicas, “o Pentágono construiu uma fábrica de germes que poderia fazer micróbios letais suficientes para destruir cidades inteiras". (20, 21) O Pentágono alegou que o objetivo era defensivo, o que mesmo assim não parece nada bom, uma vez desenvolvido em total violação ao direito internacional. O governo Bush também procurou destruir a Convenção de Armas Biológicas como um instrumento eficaz, ao fugir das negociações sobre o protocolo de verificação necessário para fazê-lo funcionar (22).

Pairando sobre tudo isso o grande inominável: a cobertura que os EUA provê às armas de destruição em massa de Israel. Não é apenas que Israel - que se recusa a ratificar a Convenção de Armas Químicas - usou fósforo branco como arma em Gaza (quando descarregado contra pessoas, o fósforo satisfaz a definição da convenção de "qualquer produto químico que, pela sua ação química sobre os processos vitais, possa causar a morte, incapacidade temporária ou dano permanente" (23)) .

E também, como assinalado pelo Washington Post, "o estoque de armas químicas da Síria é resultado de um acordo de cavalheiros nunca reconhecido no Oriente Médio pelo qual, por Israel ter armas nucleares, a busca de armas químicas pela Síria não atrai muito reconhecimento público ou crítica.”(24) Israel desenvolveu seu arsenal nuclear desafiando o tratado de não proliferação e os EUA o apoiou desafiando sua própria lei, que proíbe desembolsos em ajuda a um país detentor de armas não autorizadas de destruição em massa (25).

Quanto às normas do direito internacional, lembremo-nos de onde os EUA se colocam. O país permanece fora da jurisdição do Tribunal Penal Internacional, depois de declarar seus cidadãos imunes a ato de acusação. O crime de agressão que cometeu no Iraque - definido pelo tribunal de Nuremberg como "o supremo crime internacional" (26) - não segue apenas impune, mas também não mencionado por ninguém do governo. O mesmo se aplica à maioria dos crimes subsidiários de guerra cometidos por tropas norte-americanas durante a invasão e ocupação. Guantanamo dá de ombros para qualquer noção de justiça entre as nações.

Nada disso exime o governo de Bashar al-Assad - ou seus adversários - de uma longa série de crimes hediondos, incluindo o uso de armas químicas. Também não sugere a existência de uma resposta fácil aos horrores na Síria.

Mas o fracasso de Obama em ser honesto acerca do registro de ações do seu país para destruir as normas internacionais e minar o direito internacional, seu mito produzido sobre o papel dos EUA nos negócios globais e as suas intervenções unilaterais no Oriente Médio, tudo isto torna a crise na Síria mais difícil de resolver. Até que haja alguma sinceridade acerca dos crimes do passado e das injustiças atuais, até que haja um esforço para resolver as desigualdades sobre as quais domina, tudo que os EUA tente, mesmo que não envolva armas e bombas, vai atiçar o cinismo e a raiva que o presidente diz querer matar.

Durante seu primeiro discurso de posse, Barack Obama prometeu "deixar de lado as coisas infantis" ( 27). Todos nós sabíamos o que ele queria dizer. Ele não fez isso.

Referências:

1. See George Monbiot, 2003. The Age of Consent: A manifesto for a new world order. Harper Perennial, London.

2. http://edition.cnn.com/2013/09/03/world/united-nations-security-council-fast-facts/index.html

3. http://jewishvoiceforpeace.org/campaigns/no-more-us-vetoes-at-the-un

4. Sahar Okhovat, December 2011. The United Nations Security Council: Its Veto Power and Its Reform. CPACS Working Paper No. 15/1. http://sydney.edu.au/arts/peace_conflict/docs/working_papers/UNSC_paper.pdf

5. http://www.un.org/depts/dhl/resguide/scact_veto_en.shtml

6. http://www.un.org/en/sc/about/functions.shtml

7. http://www.whitehouse.gov/the-press-office/2013/09/06/remarks-president-obama-press-conference-g20

8. http://www.whitehouse.gov/the-press-office/2013/09/06/remarks-president-obama-press-conference-g20

9. https://www.armscontrol.org/act/2006_05/CWC2012

10. http://www.nti.org/gsn/article/pueblo-chemical-disposal-plant-85-finished/

11. http://www.theguardian.com/world/2013/sep/09/russia-syria-hand-over-chemical-weapons

12. http://www.armscontrol.org/act/2001_04/tucker

13. http://www.theguardian.com/world/2002/apr/16/iraq.comment

14. http://www.theguardian.com/politics/2002/apr/23/foreignpolicy.usa

15. http://www.theguardian.com/politics/2005/nov/15/usa.iraq

16. http://www.theguardian.com/world/2005/nov/22/usa.iraq1

17. http://www.foreignpolicy.com/articles/2013/08/25/secret_cia_files_prove_america_helped_saddam_as_he_gassed_iran

18. http://www.bbc.co.uk/news/health-13360794

19. http://www.livescience.com/14297-smallpox-decision-stocks.html

20. http://www.nytimes.com/2001/09/04/international/04BIOW.html

21. http://www.nytimes.com/2001/09/04/world/us-germ-warfare-research-pushes-treaty-limits.html

22. Edward Hammond, 21 September 2001. Averting Bioterrorism Begins with US Reforms. The Sunshine Project. http://www.greens.org/s-r/27/27-15.html

23. http://www.opcw.org/chemical-weapons-convention/articles/article-ii-definitions-and-criteria/

24. http://www.washingtonpost.com/blogs/fact-checker/post/history-lesson-when-the-united-states-looked-the-other-way-on-chemical-weapons/2013/09/04/0ec828d6-1549-11e3-961c-f22d3aaf19ab_blog.html

25. http://www.theguardian.com/world/2006/dec/13/israel

26. http://bit.ly/ORgbew

27. http://www.nytimes.com/2009/01/20/us/politics/20text-obama.html

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Novas previsões para as mudanças climáticas no Brasil

Estas são as principais manchetes do relatório lançado hoje pelo Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas:
No Brasil o aquecimento global significará principalmente mudanças no padrão de chuvas.
No Sul e no Sudeste, regiões que já sofrem com enchentes e deslizamentos, as chuvas se tornarão mais fortes e mais frequentes.
No Nordeste a tendência é oposta, a região que já é a mais castigada pelas secas enfrentará grande redução da quantidade de chuvas e secas ainda mais frequentes.
A Caatinga será, seguida pelo Cerrado, o bioma que mais sofrerá com a mudança nos padrões de chuva. O aumento da temperatura na região poderá chegar a 5,5ºC até o final do século XXI.
A área mais ameaçada da Amazônia é sua parte oriental que, além de ser mais vulnerável à mudança do clima, também enfrenta forte pressão da fronteira agrícola. Esta região sofre o risco de passar por mudanças no tipo de floresta que poderá ficar mais pobre, com menor biomassa e menor biodiversidade de fauna e flora.
O Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas reuniu 345 pesquisadores brasileiros e os principais dados científicos existentes para fazer projeções de como a região responderá ao aumento das médias de temperatura causado pelo aquecimento global.
O relatório completo pode ser lido no endereço http://www.pbmc.coppe.ufrj.br/pt/

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Países do Pacífico fazem declaração que pode fazer diferença para a mudança climática

A Austrália, a Nova Zelândia e vários outros países-ilha do Pacífico assinaram ontem a Declaração de Majuro pela Liderança Climática.
Qual é a diferença que mais esta declaração de intenções faz?
Primeiro os países reconhecem a insuficiência completa dos atuais esforços para combater as mudanças climáticas e a responsabilidade de todos em agir com urgência para a eliminação da poluição por gases de efeito estufa. Não se fala em reduzir as emissões em tantos por cento, mas em mudar de mentalidade para nos livrarmos destas emissões completamente.
Outra coisa é o abandono do discurso "eu não vou mudar até que você mude primeiro", que muitos governos do mundo continuam a manter, e a adoção do "eu estou me movendo e convido você a mudar comigo".
Se mais países seguirem esta sinalização seria possível mudar a dinâmica das negociações climáticas da ONU.
Assinaram a Declaração de Majuro pela Liderança Climática os seguintes países: Austrália, Kiribati, Micronésia, Nauru, Niue, Nova Zelândia, Palau, Papua Nova Guiné, Samoa, Tonga, Tuvalu e Vanuatu.
A declaração pode ser lida em http://d3n8a8pro7vhmx.cloudfront.net/majurodeclaration/pages/25/attachments/original/1378363615/130905_RMI_PIF_Majuro_Declaration___Commitments.pdf?1378363615

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Lições do Japão sobre energia nuclear

Este artigo do amigo Roberto Hukai foi publicado no número 27 da Revista de Estudos Avançados (2013)

Daqui a mil anos, ao olhar pelo retrovisor, os historiadores sobre “energia nos séculos XX e XXI” certamente dirão que a história da energia nuclear foi muito fascinante. Esse especial fascínio da energia nuclear é bastante distinto do petróleo e do carvão que também merecerão capítulos importantes na história da energia.

Esse fascínio exercido pela energia nuclear, que a distingue do petróleo e do carvão, advém de dois aspectos de sua natureza que estão intimamente ligados com a psicopatologia do ser humano: o primeiro é derivado da possibilidade de o homem usar energia nuclear para matar maciçamente seus semelhantes; e o segundo é devido à psicoantropologia do medo (presente desde a infância) do inimigo invisível, obscuro, que eventualmente o poderia matar, a radiação nuclear. Nos tempos do homem-primata, desde que ele inventou uma máquina capaz de matar um seu semelhante, ou um animal, a cem metros de distância, ele tanto se encantou com o arco-e-flecha que essa supermáquina foi admirada pelos guerreiros por milhares de anos, até a Idade Média. Logo no início dessa invenção, um “filósofo” daquela época teria pensado: “Nunca mais haverá guerras, pois o homem pode matar um inimigo a cem metros de distância…”. Depois, o mesmo homem inventou a pistola, o canhão e outras coisas mais terríveis. Mas nada comparável a uma bomba termonuclear. Lembremos, “nunca mais haverá guerras…”.

Para ilustrar o poderio da energia nuclear como arma para matar seres humanos, imaginemos a explosão de uma bomba termonuclear de um megaton em cima de São Paulo, a mil metros de altura, sobre o túnel Nove de Julho. Primeiro, o calor resultante da explosão seria tão intenso (mais de 25 milhões de graus centígrados no seu centro) que quase todo material combustível pegaria fogo até a Serra da Cantareira, e a onda de choque do ar, seguido dos ventos na direção do talo do “cogumelo nuclear”, teria uma força mecânica de arraste semelhante a um furacão de 300 km/h na região de Santo Amaro. Um prédio de cinco andares receberia uma força lateral equivalente ao peso de mil elefantes, um sobre outro. Tudo isso resultaria na destruição dos prédios, na morte de mais de 1,6 milhão de paulistanos, logo nas primeiras horas. A massa dos gases radioativos (contendo, entre outros, os produtos de fissão Iodo-131, Césio 134/137 e Estrôncio-90), então, subiria a 400 km por hora para uma altura de uns 20 km. E de lá, logo em seguida, esses gases radioativos seriam dispersos imediatamente sobre centenas de milhares de quilômetros quadrados na direção dos ventos sobre o Estado de São Paulo e o mar. E, ao contrário do que se pensa, pouquíssimas pessoas morreriam de radiação nuclear direta! Os incêndios e as ondas de choque do ar seriam as causas de quase todas as mortes. Ou seja, numa explosão nuclear pouca gente morre de radiação. A grande maioria das vítimas morre pelos efeitos do calor e da força dos ventos sobre as edificações da cidade.

Por outro lado, no entanto, em um acidente nuclear da Classe 7 (IAEA) que venha a ocorrer em reatores nucleares de potência, uma grande massa de radioatividade seria lançada a uma altura de menos de 50 a 150 metros e, portanto, a radioatividade, dependendo das condições dos ventos no local, seria espalhada nas imediações do reator nuclear acidentado (10 a 30 km de raio, tipicamente). E, assim sendo, toda a população ao redor do reator acidentado (até 100 km, em algumas manchas de terreno, como no caso de Fukushima) seria afetada pela radiação. Num país densamente habitado, como o Japão, em que a população convive com os reatores de potência no mesmo espaço geográfico, a energia nuclear se torna inviável se se considerar a possibilidade de acidentes do tipo que ocorreu em Chernobyl.

De outra forma, devido à capacidade destrutiva das armas nucleares, o fator geopolítico sempre foi extremamente relevante na história da indústria nuclear. Daí decorrem fatos totalmente esdrúxulos para o senso comum. Por exemplo, um país pobre de somente 16 milhões de habitantes, como a Coreia do Norte, pode sentar-se numa mesa de negociações de igual para igual com países como os Estados Unidos, a China, a Rússia, o Japão e a Coreia do Sul, conjuntamente, para discutir o seu programa nuclear. Um outro caso esdrúxulo é o caso do Irã. Apesar de o país possuir a terceira maior reserva de gás natural do mundo, alega que procura desenvolver energia nuclear para geração de energia elétrica. Ora, qualquer estudante de pós-graduação em energia da USP sabe que uma usina de geração de energia elétrica feita com turbinas de combustão (turbinas a gás), utilizando o gás natural como combustível, requer cerca de cinco vezes menos investimento do que as usinas nucleares, e o seu custo de operação e manutenção também é mais baixo, sem contar os investimentos no desenvolvimento do ciclo do combustível nuclear.

O Japão seguiu os ensinamentos em engenharia nuclear do MIT, na década de 1960 (do qual fiz parte como aluno de pós-graduação), onde foi inventada a rota do Urânio-Plutônio, isto é, a contínua reciclagem do plutônio nos chamados Fast Breeder Reators (FBR), que possibilitaria ao Japão gerar energia elétrica durante “mil anos” com somente alguns navios carregados de urânio importado do exterior. O fato que mais fascinou os estudantes japoneses de engenharia nuclear era que a energia atômica gerada por um só quilograma de Urânio seria estudos avançados 27 (78), 2013 275 equivalente, em energia, a 52 vagões de carvão, de um trem de carga. Portanto, para os japoneses, somente um carregamento de navio com urânio importado poderia representar a independência energética de fontes externas. A lógica rota Urânio-Plutônio era a solução para o Japão se tornar independente de fontes externas de energia.

Desde então, o Japão se lançou, e persistiu no desenvolvimento do projeto dos Fast Breeder Reactors, que possibilitaria a reciclagem do plutônio gerado no reator, continuamente. Visitei o primeiro piloto de FBR, Joyo, e o início da construção do protótipo comercial, Monju, no início da década de 1980, em Tsuruga. Mas o projeto do reator Monju se tornou uma tragédia monumental. Depois de mais de trinta anos, e custos de 1,2 trilhão de yens correntes, o projeto hoje está sendo abandonado, tendo operado somente um dia com os seus 280 MW nesses mais de trinta anos de sua história.

Monju Bodisatva, segundo o budismo, era um deus da iluminação e da sabedoria infinitas. De fato, Monju mostrou-se como o deus da sabedoria que ensinou os japoneses, pelo preço de mais de 20 bilhões de dólares, a abandonar o projetos dos FBR. Esse programa do FBR japonês guarda algumas lições importantes. Os próprios Estados Unidos, a Inglaterra e a França abandonaram os esforços para desenvolver esse tipo de reator, depois de gastarem dezenas de bilhões de dólares. Os ensinamentos de Monju podem ser sintetizados no Ocidente pela Lei de Murphy, isto é, “tudo que pode dar errado, um dia acontece, e no pior momento”. O refrigerador de sódio do reator Monju pegou fogo em 1995, depois de nove anos em construção. Como resultado, Monju ficou parado até 2010, quando, durante o processo de reativação do reator, dois operadores derrubaram um robô dentro do reator durante o carregamento de combustível nuclear. Dois operadores se suicidaram. Monju foi finalmente abandonado depois do acidente de Fukushima.

É digno de notar que a história da indústria nuclear japonesa, no que tange ao ciclo do combustível nuclear, também foi cheia de percalços. Em setembro de 1999, na usina de reprocessamento do combustível nuclear para a separação do plutônio, em Tokaimura, ocorreu um grave acidente no qual cerca de trezentos empregados foram contaminados por radiação e dois deles vieram a falecer. Mais tarde, a corporação PNC, dona da planta, veio a se desculpar em público por ter escondido a verdadeira dimensão e a gravidade daquele acidente.

A energia nuclear sofre de uma doença chamada de síndrome da mulher de César: “Não basta ela ser honesta, ela precisa parecer honesta”. No caso de Fukushima, houve uma antítese dessa síndrome. A mulher de César realmente parecia honesta (com base na tecnologia e na disciplina japonesas), mas era uma vagabunda: havia um contínuo conluio entre os executivos dos maiores fabricantes de reatores do mundo, as concessionárias de eletricidade nuclear, e 276 estudos avançados 27 (78), 2013 os reguladores-licenciadores. Conluio este moldado nas horas de folga nos spas urbanos de Tóquio entre os executivos dos três setores. Todos os três ramos da indústria nuclear japonesa se encontravam sob um mesmo ministério, quebrando-se a independência dos reguladores, regra básica da segurança nuclear.

E aos executivos da Tokyo Electrial Power Company (TEPCO) interessava mais o preço das ações da TEPCO na Bolsa de Tóquio do que acidentes nucleares. De fato, o acidente de Fukushima mostrou claramente que foi provocado pela “ignogância”, ou seja, uma mistura de ignorância com arrogância dos executivos da indústria nuclear japonesa, nela incluídos funcionários do governo. O tsunami de Fukushima serviu somente como um fator ignitor do acidente nuclear. Certa vez, ouvi de uma das secretárias dos professores do Departamento de Engenharia Nuclear da Universidade de Tóquio o seguinte: “Mas, eles sempre nos ensinaram que os reatores nucleares japoneses eram seguros…”.

Fukushima segue derramando água contaminada ao mar

A imagem mostra tanques que estão sendo utilizados em Fukushima para armazenar o volume de água contaminada que cresce todo dia. Especialistas preveem que a empresa responsável pelos reatores logo mais vai ficar sem espaço para armazenamento desta água contaminada, quando não restará alternativa senão despejá-la no mar ou evaporá-la.


O acidente faz o governo japonês torrar dinheiro: devem ser gastos mais de US$ 500 milhões na tentativa de criar um esquema de tratamento da água contaminada e de uma barreira de contenção para evitar que esta água contamine o lençol freático. Para isto a ideia é construir uma parede congelada de 1,4 km no subsolo em torno dos reatores acidentados.