Do blog do George Mombiot - A mensagem do novo relatório do IPCC é familiar e demolidora: tudo é tão ruim quanto pensávamos que fosse.
Poucas horas depois de seu lançamento já milhares de blogs e colunas mundo afora insistem em que o novo relatório do IPCC sobre a ciência da mudança climática é uma mistura raivosa de histórias de terror cuja finalidade é destruir a economia global. Mas na realidade o relatório é muito conservador.
O processo de alcançar um acordo entre centenas de autores e revisores garante que somente as afirmações de mais difícil disputa são autorizadas a passar. Mesmo quando há acordo entre os cientistas, o relatório ainda é temperado em outra forja, já que políticos questionam tudo o que lhes parece desagradável: o novo relatório recebeu 1.855 comentários de 32 governos e as discussões duraram toda a noite anterior ao lançamento.
Em outras palavras, este é, talvez, o maior e mais rigoroso processo de revisão por pares realizado em qualquer área científica e em qualquer momento da história humana.
Não há rupturas radicais neste relatório em relação ao anterior de 2007, apenas mais evidências que demonstram o grau de aumento da temperatura global, o derretimento e diminuição do gelo sobre o mar, o recuo das geleiras, o aumento do nível e a acidificação dos oceanos e as mudanças nos padrões climáticos. A mensagem é familiar e demolidora: "tudo é tão ruim quanto pensávamos que fosse".
O que o relatório descreve, em sua linguagem seca e meticulosa, é o colapso do clima benigno em que os seres humanos evoluíram e prosperaram e a perda de condições ambientais das quais muitas outras formas de vida dependem. As mudanças climáticas e o aquecimento global são termos inadequados para o que o relatório revela. A história que ele conta é de colapso climático.
Esta é uma catástrofe que somos capazes de prever, mas incapazes de imaginar. É uma catástrofe frente à qual estamos singularmente mal equipados para prevenir.
Os relatórios do IPCC atraem a negação em todas as suas formas: de um tranquilo dar de ombros - a resposta da maioria das pessoas - à rejeição aguda. Apesar - ou talvez por causa - de seu rigor, os relatórios do IPCC atraem uma magnífica coleção de teorias da conspiração: o Painel está tentando taxar-nos de volta à idade da pedra ou estabelecer uma ditadura nazista/comunista na qual ficaremos amontoados em acampamentos e forçados a remendar nossas próprias bicicletas (e eles chamam os cientistas de alarmistas...).
Nos jornais Mail e Telegraph, e nos porões da internet, o relatório do IPCC (ou um rascunho que vazou há algumas semanas) foi escarafunchado na procura de quaisquer incertezas que pudessem ser usadas para desacreditá-lo. O Painel informa que em todos os continentes, exceto na Antártida, é provável que o aquecimento provocado pelo homem tenha contribuído para a temperatura superficial. Portanto, aqueles que se sentem ameaçados pelas evidências ignoram os outros continentes e se concentram na Antártida, como prova de que a mudança climática causada pelos combustíveis fósseis não pode estar acontecendo.
Eles fazem grande alarde do reconhecimento feito pelo IPCC de que houve uma "redução na tendência de aquecimento da superfície no período de 1998-2012", mas de alguma forma ignoram que a última década ainda é a mais quente até hoje registrada por instrumentos.
Eles manejam para negligenciar a conclusão do Painel que esta desaceleração da tendência deve ter sido causada por erupções vulcânicas, variações na radiação solar e, também, pela variabilidade natural do ciclo planetário.
Se não fosse pelo aquecimento global provocado pelo homem, esses fatores poderiam ter feito o mundo significativamente mais frio durante este período. O fato de ter havido um aumento ligeiro na temperatura mostra o poder da contribuição humana.
Mas a negação é apenas uma parte do problema. Mais significativo é o comportamento dos poderosos que afirmam aceitar as evidências. Esta semana a ex-presidente irlandesa Mary Robinson acrescentou sua voz a uma chamada que alguns de nós vimos fazendo há anos: o único meio eficaz de prevenir o colapso climático é deixar os combustíveis fósseis no subsolo. Pergunte a qualquer ministro sobre este assunto em particular e, de uma forma ou de outra, eles vão admitir esta verdade. No entanto, nenhum governo vai agir assim.
Como que para marcar a publicação do novo relatório o Department for Business, Innovation and Skills estampou um cartaz gigante em suas janelas: "Petróleo e gás: energia para a Grã-Bretanha. £ 13,5 bilhões estão sendo investidos na exploração de petróleo e gás no Reino Unido este ano, mais do que em qualquer outro setor industrial".
A mensagem não poderia ter sido mais clara se tivessem dito "dane-se". É um exemplo do modo pelo qual todos os governos colaboram com o desastre que publicamente lamentam. Eles sabiamente demonstram concordar com a necessidade de fazer algo para evitar a catástrofe prevista pelo painel, enquanto promovem as indústrias que a causam.
Não importa quantos geradores eólicos ou painéis solares e usinas nucleares forem construídos se não aposentarmos simultaneamente a produção de combustíveis fósseis. Precisamos de um programa global cujo objetivo é deixar a maioria das reservas de petróleo e gás e carvão enterradas onde estão ao mesmo tempo em que desenvolve novas fontes de energia e reduz a incrível quantidade de energia que desperdiçamos.
Mas, longe de fazê-lo, os governos em todos os lugares ainda estão tentando espremer cada gota de suas reservas e garantir acesso às dos outros. Enquanto as reservas mais acessíveis são esvaziadas, as empresas de energia exploram as partes mais remotas do planeta, subornando e intimidando governos para que as permitam abrir lugares ainda inexplorados: do fundo do oceano às regiões abertas pelo degelo do Ártico.
E os governos que permitem esta exploração choram lágrimas negras e pegajosas sobre a situação do planeta.
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