segunda-feira, 20 de outubro de 2014

A sua crise é pior que a minha. Não, a sua é que é pior.



Os representantes das campanhas do PT e PSDB, Mauricio Tomalsquim e Adriano Pires, gastaram quase todo o tempo do debate sobre energia promovido pela Globo News trocando acusações. Como os candidatos, aliás.
AS duas crises a que eles se referiam, o apagão de 2001 e a atual crise de financiamento da operação do setor elétrico brasileiro têm características diferentes geradas por visões de mundo distintas.
Como agora, o apagão do PSDB de 2001 teve como gatilho a falta de chuvas, mas se revelou à população imediatamente na forma de falta de energia e foi resultante do baixo investimento acumulado ao longo dos anos. A ênfase de FHC no papel das agências reguladoras e na privatização do setor não conseguiu animar investidores e a energia faltou quando São Pedro não cooperou.
A crise atual do setor elétrico será sentida pela população nos próximos 2 ou 3 anos na forma de elevação de tarifas, já que energia não faltou, pelo menos até agora. Novamente, o gatilho da crise é a falta d'água nas represas (culpa novamente de São Pedro?), mas esta está sendo coberta pela queima de combustíveis fósseis nas termelétricas instaladas desde o apagão. Como estas têm custos mais altos e como seus estão sendo regidos pelo jogo de oferta e demanda do mercado livre, sua energia é necessariamente mais cara, e este aumento de custos será cobrado dos consumidores e contribuintes no futuro próximo. O TCU avalia o total da encrenca em R$ 61 bilhões adicionais, que podem se transformar em R$ 100 bilhões adicionais, se considerarmos também o que deve ocorrer em 2015.
A ênfase de Lula e Dilma na regulação do setor elétrico e na oferta de preços adequados aos investidores nos leilões de energia conseguiu trazer os investimentos que faltavam, mas estes foram destinados a grandes hidrelétricas de baixo armazenamento de água e a termelétricas, com algumas sobras do banquete sendo destinadas às eólicas.
Quanto a combustíveis, o uso da Petrobrás para manter a inflação sob relativo controle esmagou o setor sucroalcooleiro e reduziu em muito a capacidade de investimento da empresa. E a intenção de transformar a Petrobras em uma empresa de energia, para além do petróleo, ficou reduzida às termelétricas a gás. Beijinho no ombro para os sonhados investimentos de monta em bioenergia e energia solar.
Não está faltando planejamento como muitos dizem, e como disseram ambos os debatedores criticando os governos um do outro. Faltam diretrizes para a sustentabilidade da energia no Brasil. Falta uma visão de futuro que dê respostas à mudança climática, até porque a única coisa que é comum às duas crises é o gatilho da falta d'água.

(O debate entre Mauricio Tomalsquim e Adriano Pires pode ser visto em http://g1.globo.com/globo-news/noticia/2014/10/representantes-de-dilma-e-aecio-debatem-no-globonews-miriam-leitao.html)

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