quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Sobre a lacuna na pesquisa em energia e a crise climática

(Andrew C. Revkin – Dot Earth)

1) Energia importa: a energia pode produzir suprimentos abundantes de água potável, permite a produção, armazenamento e distribuição de alimentos, a mobilidade, a conectividade, a saúde e o conforto.

2) Mesmo com a popularização de tecnologias e métodos de conservação de energia, um mundo que terá 9 bilhões de pessoas em busca de uma vida decente exigirá muito mais do recurso do que as fontes e os sistemas atuais podem proporcionar. E já existe uma escassez enorme de energia no planeta, com cerca de dois bilhões de pessoas sem o simples benefício da iluminação ou de uma fonte limpa de calor para cozinhar suas refeições.

3) Se países como China e Índia seguirem o padrão americano de transporte, o crescimento a jato resultante da demanda por petróleo está fadado a ser uma influência perturbadora nos assuntos mundiais, mesmo se não considerarmos o impacto climático de todas as emissões adicionais de gases de efeito estufa. Pense: os EUA, com 307 milhões (indo para 400 milhões) de pessoas, consome cerca de 20 milhões de barris por dia; a Índia, com mais de 1,1 bilhão de pessoas, por sua economia andar ainda em primeira marcha, consome 2,67 milhões de barris de petróleo por dia, enquanto as projeções apontam para um vasto aumento na demanda; adicione as projeções de uso de automóveis na China e você verá por que as escolhas correntes de combustível não se sustentam.

4) Se (parte da) a humanidade permanecer presa ao degrau-carvão da "escada de calor" de Loren Eiseley por outra geração, jogará com o risco inaceitável na direção de mudanças disruptivas de longa duração no clima por meio do acúmulo de gases de efeito estufa na atmosfera.

5) No entanto, se eu tivesse que escolher um entre os dois adesivos para o carro – CRISE CLIMÁTICA ou PESQUISA ENERGÉTICA – eu escolheria o segundo. Isso não significa que rejeite a ideia de que estamos diante de uma crise climática. Eu só não acho que essa frase é uma maneira produtiva de enquadrar o desafio, particularmente como definido nos últimos anos no acalorado debate político. A definição que eu escolheria é muito parecida com a feita por Richard Somerville, da Universidade da Califórnia em San Diego, durante um debate sobre o clima há vários anos: "O aquecimento global não é uma crise". Aqui está um pouco do que ele disse: para entendermos a frase “o aquecimento global não é uma crise”, devemos saber o que significa crise. A palavra não significa catástrofe ou alarmismo, mas um momento crucial ou decisivo, um ponto de mutação, um estado de coisas no qual uma mudança decisiva para melhor ou pior é iminente. Nós estamos falando sobre o futuro aqui. O mundo inteiro agora realmente tem uma escolha crítica a fazer entre continuar no atual caminho adicionando mais e mais dióxido de carbono e outros gases de efeito estufa à atmosfera ou encontrar algum outro. Estamos falando do futuro e a ciência diz-nos que o caminho que escolhermos irá determinar que tipo de Terra nossos filhos e netos herdarão.

6) O mundo não está remotamente engajado em pesquisar as fontes de energia que seriam necessárias para preencher as lacunas definidas acima. Estou falando de uma busca contínua, da tomada de luz da casa à sala de reuniões, do laboratório à sala de aula, da cidade inteligente pós-industrial americana à luta (literalmente) impotente das aldeias subsaarianas. Esta não é uma tarefa onerosa, mas uma afirmação ativa e positiva de que as formas como geramos e usamos energia – um ativo há tempos tido como garantido e precificado de forma a mascarar os seus custos mais amplos – realmente importam. Lugares secos fazem isso com a água o tempo todo. Em Israel não há banheiro sem duas opções de descarga. Não é um conceito verdolengo, é apenas a maneira como as coisas são feitas.

Você já deve ter ouvido falar muito sobre uma revolução energética tardia que envolve uma explosão (temporária) de gastos em legislações de incentivo. Mas esta é construída a partir de uma base miserável de investimento público e privado na arena energética, na qual avanços realmente poderiam expandir o cardápio de fontes de energia necessárias para sustentar um Planeta saudável e uma humanidade próspera, mesmo em seus estirões de crescimento. Não estou dizendo que o investimento sustentado na investigação científica é remotamente suficiente, por si só, para conduzir uma transformação energética. Mas vejo os níveis de investimento em tais pesquisas como um proxy do nosso interesse geral na questão.

Basta olhar o gráfico demonstrativo de meio século de investimento norte americano em pesquisa científica básica (abaixo). Você pode ver a corrida espacial (amarelo) e a paixão pela investigação médica (azul). A banda verde, que representa quase todas as pesquisas em energia, tem a aparência de uma cobra que engoliu uma bola de softball durante a crise do petróleo.

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